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sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

estória de escritor

uma vez
pescando por essas águas
fisguei o maior poema dos últimos tempos

com muito esforço
cheguei a puxar metade das estrofes
pela ponta dos versos
pouco a pouco ia ganhando a briga
mas quando a resolução
já estava saindo da água turva
o bicho, forçudo que só,
me quebrou o fio da meada
e fugiu por água abaixo
me deixando só com um lápis
e alguns versos na mão

mas te contar que aquilo
era uma obra prima...

sábado, 15 de dezembro de 2007

O Arnaldo Antunes costuma falar umas coisas bem interessantes

Tava lendo esses dias uma entrevista antiguinha do Arnaldo Antunes no site dele quando no meio de uma pergunta ele disse o seguinte:

"Sempre gostei de dançar, acho que o apelo da música sobre o corpo é muito importante. Inclusive a relação entre música e corpo deveria ser mais considerada pela crítica de música em geral. As pessoas, quando pensam em parâmetros para avaliar a qualidade artística de um disco ou de uma canção, nunca pensam em como aquilo bate no corpo, se aquilo é para dançar ou como aquilo arrepia. Porque punk fura bochecha? Porque heavy metal usa couro?. A relação entre música e a coisa orgânica do corpo é uma algo importante. Porque um reggae, quando é dançado, parece que está se lutando contra a gravidade? E no rock você vai a favor dela? Porque no psicodélico você faz outros movimentos? Tudo isso e o jeito de dançar deveriam ser mais considerados."

Bastante interessante. Fico impressionado com a sensibilidade desse cara.

Depois de ler essa entrevista eu comecei a prestar atenção em como o meu corpo reagia aos diversos tipos de música e o que ele falou fez sentido.

Tudo bem que escutando música no computador na qualidade de uma mp3 fica uma coisa um tanto distante das sensações que se têm em um show de rock ou assistindo a uma orquestra. Sentir o soco que vem do bumbo da bateria no seu peito ou o som dos violinos vibrando na sua barriga mexe com quem ta escutando. Acho que isso explica o porque é tão bom escutar música alto.

Isso sem comentar o que ele falou sobre a relação entre música e o jeito de se vestir. Eu nunca tinha pensado dessa maneira, sempre encarava isso apenas como uma forma de moda e de identificação de um grupo, de um jeito até preconceituoso da minha parte. Pensar nessa influência direta da música sobre a forma de se vestir me faz refletir sobre as próprias palavras que são usadas pra descrever uma música, como, por exemplo, chamar o som punk de agessivo. De certa forma, "furar a bochecha" também é agressivo e deixa uma aparência agressiva.

Talvez seja esse apelo da música ao corpo que explica o porque existem músicos surdos. Música vai além da audição.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Mar de Lama

nada poeta nada

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

um pouco de interdisciplinaridade...

"O Binômio de Newton é tão belo como a Vênus de Milo.
O que há é pouca gente para dar por isso.

óóóó---óóóóóó óóó---óóóóóóó óóóóóóóó

(O vento lá fora.)"

Álvaro de Campos, 15/01/1928




Ainda não consegui descobrir a beleza do binômio do Newton, mas hoje me maravilhei com o moto perpétuo (ou moto contínuo). Me fez pensar sobre a força desajustada da vida.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Ocupado

quando tudo passar
eu passo pra poesia

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Química

Eu sozinho, entediado,
que mal fui amado,
vou no doutor
descobrir uma dor.

A análise fria
de meu corpo quente
indica um nome de doença
e seu combatente:

Pílula do Genérico Amor!
Pra curar essa falta de alguém,
pra fazer todas essas coisas,
coisa e tal.

Ah, euforia,
estou apaixonado!
Ando errando muito,
engraçado...

Foi bom à beça,
mas em duas estrofes
logo cessa.
O que parecia duradouro
fica chocho.
Passa relacionamento
vai perdendo efeito
e as doses vão crescendo.

Cada vez mais insaciado
busco por inspiração,
algo mais forte.

Que nada,
forte sou eu
pois agora tudo me é fraco.

Perdida de vista a cura
do meu eu tão coitado
sou todo largado.
Com a ponta da agulha
te injeto com fúria
e dou um sorriso abestado.

Em meio a tantas cores
e sensações que me são estranhas,
a vejo toda brilhante,
distorcida. Num instante,
um vulto dobrando a esquina,
seu corpo, calejado da química,
e eu, escorado num muro sujo,
apagando.

sábado, 6 de outubro de 2007

Caneta de Ouro

A poucos posts atrás a B. indicou o meu poema Ti que t'aqui pro concurso "Prêmio Caneta de Ouro - Poesias 'in Blog 2007" que o André L. Soares e a Rita Costa estão organizando. Fiquei bastante grato e contente com a indicação, pois é o primeiro concurso de poesias que eu participo.
Bem bacana a iniciativa dos organizadores de incentivar a poesia e unir os poetas da blogsfera.
Pra acessar as regras do concurso é só clicar no banner dele na coluna da direita ou aqui mesmo.

Os meus cinco poemas indicados são:
"Pedacinhos", do blog Versos de Líros
um poema sem título do blog Palavrogramas
"Da Deselegância", do blog Transgressivo
"Conto de Fadas", do blog Sr. Personna
"sobre a leveza do ter", do blog Traverssuras

sábado, 29 de setembro de 2007

pasta de dente.

café,
torradas,
uma fruta,
pasta de dente.

arroz,
bife,
salada,
pasta de dente.

cigarro,
bala de hortelã,
doce
ou salgado,
pasta de dente.

macarrão,
refrigerante,
sobremesa,
pasta de dente.

genitália,
chocolate,
pasta de dente.

sábado, 8 de setembro de 2007

Janela - Carlos Drummond de Andrade

Tarde dominga tarde
pacificada como os atos definitivos.
Algumas folhas da amendoeira expiram em degradado vermelho.
Outras estão apenas nascendo,
verde polido onde a luz estala.
O tronco é o mesmo
e todas as folhas são a mesma antiga
folha
a brotar de seu fim
enquanto roazmente
a vida, sem contraste, me destrói.

- - - - - x - - - - -

Por motivos de força maior.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

não se É certo
que não é Errado

Em poesia, prosa, suspiro, espirro
ás-piração, ins-pirações

palavras furando fila
de Ordem Alfabética
no dicionário

Versos engordando estrofes
Fonemas estragando rimas
Idéias tropeçando monotonias,
fazendo sexo com a norma padrão
Metalinguagem

para impressionar lingüista
gastrônomo e quem não recebeu instrução

Acender o escuro
queimar um lampião
Pintemos versos coloridos
soltemos as criação!
tcmos
esquisitemos

sejamos subversivos

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Compasso

para o coração
um dois
para o passo
um dois
para a maioria das músicas
um ao quatro
para respirar
até dez
para dançar valsa
dois
para a vida
uma elipse
e os viventes
compassivos
a desenhar circunferências

terça-feira, 10 de julho de 2007

poesia de um panfleto incompleto

I - Flagrante

distraído, bateu o olhar no céu
e lembrou que tinha visão


II - Falsos

sob a camuflagem de brincadeiras
se amavam sério


III - Preocupação

estava sempre preparada para o pior
mas nunca para o melhor


IV - Bar

ondulava gostoso o ar e a fumaça
que também era neblina


V - Percepção

quando se deu conta
restava apenas a intuição numa das mãos

sábado, 30 de junho de 2007

Metros e Fulanos

Não sabiam muito bem quando ou quem havia começado aquela rotina de olhares tortos. Quando um passava distraído, era o olhar do outro que chamava a atenção de volta. E como achavam chato viver sempre sob a mira de olhares tão indiscretos.

Dia sim, dia não, o casal de fulanos seguia com a sua rotina de casal. A rotina deles era apenas os olhares indiscretos e invasivos os quais tentavam disfarçar em vão, que iam gradualmente ficando mais intensos e incontroláveis. No resto do dia se questionavam o porquê daqueles olhares trocados entre dois desconhecidos. Ela pensava: "Até que é bonitinho". Ele pensava: "Ela deve me achar um psicopata". Ela achava um pouco disso, mas não podia ter certeza.

Eles tinham o incrível azar de sempre se encontrarem por aí, de cara surpresa, morrendo de medo de não se esbarrarem. Achavam que isso incomodaria ao outro. Reclamar dos olhares eles não podiam, mas de um esbarrão, quem sabe?

Completando um mês de relacionamento, quase como um presente da data, descobriram os nomes um do outro. Não mudou muita coisa. Mais um mês e se aproximaram o suficiente, contra as suas vontades, e puderam se escutar conversando com outras pessoas. As vozes eram bastante diferentes do que imaginavam: não eram espalhafatosas, depressivas ou sensuais. Eram comuns. Acharam estranhas para pessoas tão especiais.

A vida sexual do casal era bastante ativa. Fulana gozava em seus próprios dedos imaginando fantasias com Fulano, que por sua vez, jorrava tinta de caneta em poesias eróticas. Se masturbava pensando nela também, mas com menos freqüência com que escrevia.

Depois de três longos meses de relacionamento, Fulano começou a ficar com Marcela. Fulana nunca soube disso, mas mesmo assim notou que Fulano estava diferente. Seus olhares já não eram os mesmos e nem tão freqüentes como antes. As fantasias de Fulana perderam o encanto quando ela perdeu seus olhares. Fulano passou a escrever poesia sobre Marcela e sua nova paixão e agora já não precisava mais se masturbar.

Sem discussão ou drama terminaram o relacionamento. No final do mesmo ano, Fulana foi morar no nordeste, onde pode saciar suas vontades com um primo. Fulano começou a namorar firme. Algum tempo depois, ainda namorando com Marcela, sentiu que algo faltava na sua rotina, mas não sabia dizer muito bem o que era.

sábado, 9 de junho de 2007

Luzes Acesas

É hora de se levantar
Hora de colher
A dor que se esfarelou,
Os papéis, as peças.
Nos extremos, a esperança
De um novo palco a aguardar
Fora
O caminho de volta
É daqui para trás
Um sorriso fechado no punho
e nada além
Começa um novo take

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Romantismo

Dela
tinha apenas medo e tesão
Doeu
quando cansado desse impasse
dediquei-lhe uma masturbação

sábado, 19 de maio de 2007

Sou uma rocha e sua liberdade
Em paciência centenária de tartaruga
Trazendo meia vida aos caminhos automáticos
E o peso de pêndulos nos bolsos.

Ando embreagado de sono
Dando largos risos ensandecidos sob as olheiras
Dos olhos que observam com indeferença
Um mundo girando num ritmo desajustado.

Não tenho pressa, o orvalho
Encharca minhas vestes com o mesmo descanso
Inquietando-me nos antigos sonhos.

Em um dia qualquer, acordo
Como que saído de um lago,
Mas com o mesmo sono de outrora.

domingo, 6 de maio de 2007

Peço a ti que escute essa proposta surdamente:
mesmo que por alguns instantes,
te entregarias à Lua?

Dia e noite ela te orbita
a mostrar a face vermelha.
Do espaço, ela questiona
até que ponto tua pele será branda
e deseja esse ponto
por todo o seu comprimento.

És vizinha da Lua,
verás que teu corpo junto ao dela
tem o mesmo tamanho.

Num passo para trás
sentirás na pele
que também sentes como ela.

E com um impulso
decidirás a tua própria órbita.

domingo, 29 de abril de 2007

O Post Inevitável de Todo Blog

Sim, o blog anda parado. Também sim, eu ando muito ocupado e sem tempo pra escrever aqui. Ah sim, claro, tenho uns posts pela metade, mas devido a falta de tempo de ócio produtivo eu ainda não consegui terminar eles. Não, eu não sei quando vai ser isso.
A culpa? É das pontes de hidrogênio...

quarta-feira, 18 de abril de 2007

Roda Vaga

Correr para longe
é acelerar o passo do retorno.
Há sempre de retornar.

Banho de água quente.

Parte deste ciclo
é escorregar pela tangente
esperando apenas por eco.

Precipitação.

A cada volta uma velha efemeridade,
um novo giro fulgaz.
Na roda, uma rachadura
demarcando no círculo monótono.

Azenha que se move.

Os referenciais se perdem no tempo.
Tanto a regularidade quanto as fendas
se tornam deformações.

sexta-feira, 13 de abril de 2007

Sabe como é

Eu queria colocar um monte de coisas nuns versos,
mas eu ando meio instrumental.


Miles Davis - 'Round Midnight

sábado, 7 de abril de 2007

Template novo

Depois de terem comentado no orkut que o meu template anterior parecia com um banheiro de vó de tão limpo (adorei isso!) eu percebi que estava precisando mesmo de um template novo. Aproveitei que fiquei gripado nesse começo de feriado e fiquei desenhando no Paint até sair a imagem do topo da página. Meio caminho andado, de resto foi só mudar as cores do template antigo, ajustar algumas coisas pequenas e pronto.
É simples, pouco, mas é meu. Assim como aquele bife que eu deixei queimar um pouco outro dia.

terça-feira, 3 de abril de 2007

Ti que t'aqui

Relógio,
traz-me algo de novo!
tic
tac.

Tua fala temporal,
tac
teu tic me da nervoso...
tic.

A cada silêncio
escuto teu ataque
tic-taque.
Se tu fosses mudo...
tac.

Tu corres em tic-tac
tic-tac, tic-tac, tic-
tac, tic-tac, tic-tac
aceleras o passo do meu pulso
tic-tac.

tic-c-
Ta nas veias da minha cabeça.

Mas eu sou tolo,
peço coselhos a ti
c-tac.
Se eu fosse mudo...
tic-tac.

tic
tac
Tá!
c tic-tac. t-
ic.

(De um susto
acabou-se o soluço,
ou se acabaram as pilhas?)

quarta-feira, 28 de março de 2007

Box

Levantou-se do chão após várias tentativas e foi tomar um banho. Queria se tocar, mas sem gozar. Não gostava o suficiente dos seus orgasmos.
Pegou uma toalha, roupas e entrou no banheiro, mas não ia funcionar. Já esparava a depressão, mas em menor intensidade.
Entrou no box, ligou o chuveiro e se vendo longe dos olhos das outras pessoas se sentiu pior. Começou a chorar como a muito não chorava. Grunhiu involuntariamente pela garganta como um animal. E pensou o quanto tudo aquilo era horrível, sentiu desgosto pelo seu estado deplorável, sentiu ódio do mundo. Mas continuou com a cara limpa, apesar do choro não derrubou uma única lágrima. Continuou o seu banho quase normalmente.
Saiu do box e enquanto se secava olhou para o espelho. Esperava encontrar-se horrível, mas teve a sensação de que poderia vender o seu corpo facilmente com um pouco de maquiagem. Não olhou nos olhos como costumava. Nem tomou fôlego, abriu a porta do banheiro deixando a toalha molhada e a roupa suja para trás.

quarta-feira, 14 de março de 2007

Pouco-caso

A veia salta,
o sangue sobe,
o sangue é quente,
o ar é pouco.

O espaço é pouco,
movimentos bruscos são pouco.
Excita-se um olho
pelo buraco da fechadura.

Nada escapa por ali
além de um feixe de luz
composto de muitas cores.
A pupila é indecisa.

As mãos também.
Mas diferentes da pupila,
buscam apoio.

Foi catalogado
em: causa, consequência,
discussão e solução.
Nome? O que não tem?

Foi reduzido
em meia página
de uma enciclopédia,
como se fosse suficiente.

quinta-feira, 8 de março de 2007

8 de Março

No dia 8 de março de 1911, em Nova York, acontecia uma manifestação liderada por mulheres trabalhadoras da indústria têxtil que protestavam contra as más condições de trabalho nas fábricas e os salários reduzidos. As protestantes foram trancadas dentro da fábrica pelos patrões e pela polícia, que ateram fogo no prédio. 129 trabalhadoras morreram carbonizadas nesse dia.
Essa não foi a primeira das manifestações de cunho feminista conhecidas, mas acabou tornando-se um marco das lutas pelos direitos iguais entre a mulher e o homem. Várias conquistas foram obtidas apartir das manifestações do 8 de março, por exemplo, o direito a voto e melhores salários.
O movimento feminista atua em diversas frentes como contra a violência à mulher, direitos civis, melhores condições de trabalho e de remuneração, pelo seu papel na sociedade e na família, dentre outras causas.

Homens e mulheres têm diferenças e não são poucas, acho isso evidente. Existem várias vertentes do movimento feminista, a que eu mais acredito e dou total apoio é a que aceita diferenças entre os sexos (alguns até são contra o termo "feminismo" que pode sugerir um sexismo), mas que estas não sejam utilizadas como argumento para o preconceito e o desrespeito.
O problema é que essas diferenças costumam ser mal interpretadas à favor do homem. Por exemplo o fato de os homens terem uma musculatura mais desenvolvida resultar de expressões como "sexo frágil" ou de tratar as mulheres como incapazes de certas atividades devido ao seu corpo. É ignorante chamar de frágil uma pessoa que desloca a bacia pra poder parir um filho, ou vários.
Ou até mesmo coisas mais simples que costumam passar desapercebidas no nosso vocabulário, como referir-se à humanidade como "o homem". Pode parecer pequeno, mas há os que defendem a teoria de que a língua utilizada tem um impacto enorme nas relações sociais. Em contraponto à isso, existem outras línguas que possuem pronomes masculinos, femininos e neutros.
Apesar de o 8 de março ser marcado pela tragédia do assassinato cruel de 129 mulheres, não encaro esta como uma data triste. Vejo ela como a continuação da luta daquelas que morreram em nome de direitos que as mulheres de hoje têm (apesar de os contrastes da posição entre os sexos na sociedade ainda serem gritantes), além da celebração dos direitos iguais na humanidade, independete de credo, etnia ou sexo.
Desejo à todas um feliz Dia Internacional da Mulher.




Fonte: www.wikipedia.org (Feminismo e Dia Internacional da Mulher)

Obs: é capaz de a data da manifestação da fábrica estar errada, já li também que o ano certo é 1857.

domingo, 4 de março de 2007

Designificando

De vez em quando,
assim de repente
eis que surge um trecho da gente
que qualquer que seja a oração
não consegue esboço nem contorno.

De vez em onde?
Não há ponta de
caneta que dê suporte;
dentro do corpo
não se encaixa justo.

Acaba sempre a extravasar
pelo buraco do olho,
por entre as costelas.
Criança levada de qualquer coisa
correndo da mão de atravessar a rua.

Voz alguma seria afago materno,
conselhos quaisquer não soariam paternos.
Mesmo todas as combinações
de todas as palavras
ainda não conseguem codificar
esse significado.

Envolto no ar do trompete
nas mãos de um negro
dos dedos soltos que
cantava coisas sobre a meia-noite
me dei a contemplar.

E percebi que
quando me vem esse trecho
apenas espero escutar
a música instrumental da madrugada
e que ela faça tanto sentido
quanto o giro sem rumo de um ventilador.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

O Copo

o corpo é um copo
um copo é um corpo
corpo
córpo
o córpo é um copo
o corpo é um córpo
um copo é um copo
um corpo é um
corpo

terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

Sobre a origem da poesia

Olá, Invasor!
Já que a pouca inspiração não tem me permitido escrever muita coisa digna de um post vai um Ctrl + V de um texto que eu retirei do site oficial do Arnaldo Antunes, site muito bom por sinal.
Gostei bastante dos comentários do último post apesar de o final do poema não ter agradado muito. Vou ser franco, a parte do final foi a que eu menos trabalhei e depois de ler os comentários eu fiquei divido quanto ao que eu tinha escrito, até adicionei um "talvez" na última estrofe. Mas foi muito bom pro lado de cá, me fez enxergar com outros olhos o que eu escrevi nesse e em outros posts. Muito bom mesmo, continuem assim! Aproveitem que o Botão Redondo e Vermelho ainda tem aquele click gostoso de botão novo bem tentador.
E quem sabe um dia eu resolva postar alguma conversação mais extensa que esses breves comentários, mas costumo não gostar do que eu escrevo nesse tom.
Se cuide, Invasor!


- - - - - x - - - - -


Sobre a Origem da Poesia
Arnaldo Antunes

"12 Poemas para dançarmos" (12 poems to be danced: 2000

A origem da poesia se confunde com a origem da própria linguagem.
Talvez fizesse mais sentido perguntar quando a linguagem verbal deixou de ser poesia. Ou: qual a origem do discurso não-poético, já que, restituindo laços mais íntimos entre os signos e as coisas por eles designadas, a poesia aponta para um uso muito primário da linguagem, que parece anterior ao perfil de sua ocorrência nas conversas, nos jornais, nas aulas, conferências, discussões, discursos, ensaios ou telefonemas.
Como se ela restituísse, através de um uso específico da língua, a integridade entre nome e coisa — que o tempo e as culturas do homem civilizado trataram de separar no decorrer da história.
A manifestação do que chamamos de poesia hoje nos sugere mínimos flashbacks de uma possível infância da linguagem, antes que a representação rompesse seu cordão umbilical, gerando essas duas metades — significante e significado.
Houve esse tempo? Quando não havia poesia porque a poesia estava em tudo o que se dizia? Quando o nome da coisa era algo que fazia parte dela, assim como sua cor, seu tamanho, seu peso? Quando os laços entre os sentidos ainda não se haviam desfeito, então música, poesia, pensamento, dança, imagem, cheiro, sabor, consistência se conjugavam em experiências integrais, associadas a utilidades práticas, mágicas, curativas, religiosas, sexuais, guerreiras?
Pode ser que essas suposições tenham algo de utópico, projetado sobre um passado pré-babélico, tribal, primitivo. Ao mesmo tempo, cada novo poema do futuro que o presente alcança cria, com sua ocorrência, um pouco desse passado.
Lembro-me de ter lido, certa vez, um comentário de Décio Pignatari, em que ele chamava a atenção para o fato de, tanto em chinês como em tupi, não existir o verbo ser, enquanto verbo de ligação. Assim, o ser das coisas ditas se manifestaria nelas próprias (substantivos), não numa partícula verbal externa a elas, o que faria delas línguas poéticas por natureza, mais propensas à composição analógica.
Mais perto do senso comum, podemos atentar para como colocam os índios americanos falando, na maioria dos filmes de cowboy — Eles dizem "maçã vermelha", "água boa", "cavalo veloz"; em vez de "a maçã é vermelha", "essa água é boa", "aquele cavalo é veloz". Essa forma mais sintética, telegráfica, aproxima os nomes da própria existência — como se a fala não estivesse se referindo àquelas coisas, e sim apresentando-as (ao mesmo tempo em que se apresenta).
No seu estado de língua, no dicionário, as palavras intermediam nossa relação com as coisas, impedindo nosso contato direto com elas. A linguagem poética inverte essa relação pois vindo a se tornar, ela em si, coisa, oferece uma via de acesso sensível mais direto entre nós e o mundo.
Segundo Mikhail Bakhtin, (em "Marxismo e Filosofia da Linguagem") "o estudo das línguas dos povos primitivos e a paleontologia contemporânea das significações levam-nos a uma conclusão acerca da chamada 'complexidade' do pensamento primitivo. O homem pré-histórico usava uma mesma e única palavra para designar manifestações muito diversas, que, do nosso ponto de vista, não apresentam nenhum elo entre si. Além disso, uma mesma e única palavra podia designar conceitos diametralmente opostos: o alto e o baixo, a terra e o céu, o bem e o mal, etc". Tais usos são inteiramente estranhos à linguagem referencial, mas bastante comuns à poesia, que elabora seus paradoxos, duplos sentidos, analogias e ambiguidades para gerar novas significações nos signos de sempre.
Já perdemos a inocência de uma linguagem plena assim. As palavras se desapegaram das coisas, assim como os olhos se desapegaram dos ouvidos, ou como a criação se desapegou da vida. Mas temos esses pequenos oásis — os poemas — contaminando o deserto da referencialidade.

www.arnaldoantunes.com.br

sábado, 10 de fevereiro de 2007

Casacos Pretos, Peles Brancas, Carne Vermelha

Me aprontei rápido e fui ao seu encontro.
Roupas simples: o mesmo casaco preto de sempre,
o mesmo perfume.
Passei numa banca e comprei um Halls,
fui pegar meu ônibus.
Cheguei cedo, lugar tranqüilo
alguns minutos depois chegou ela
e gostei do que vi muito mais do que poderia imaginar
ela também trouxera o seu casaco preto.

O tempo todo reparava
nos seus olhos escuros, no rosto e nas mãos brancas.
Ela me olhou da cabeça aos pés
disse que gostou do cabelo.

A conversa fluiu em tom agradável
falamos sobre casualidades
Gostei especialmente da parte
sobre sonhos e espiritismo
que de certa forma foi nos aproximando.

Fomos andar um pouco pra aquecer
e pude reparar no seu caminhar
apesar de hoje não lembrar muito bem de suas pernas.
Usava calça jeans justa.

Ficamos conversando, caminhando e parando pra sentar
por horas horas a fio
que passaram como algumas dezenas de minutos.
E no começo de cada silêncio
fizemos pactos por debaixo das mangas dos casacos.

O lugar estava lotado,
convidei-a para sair e dar uma volta.
Fez que sim com a cabeça e começou a andar sem pressa.
Deviam fazer algumas horas que eu já não pensava nos meus atos,
ela se mostrou um pouco inquieta.
E não muito longe dali alguém puxou um abraço,
um beijo,
uma mordida.
Descobrimos no gosto do corpo da gente
nosso único gosto em comum.
Entre um beijo e outro
pude ver seu olhar altivo desnorteado
quase que puxando a minha boca enquanto eu tomava fôlego
e apreciava cheio de gosto a vista.

Depois de bastante tempo, o caminho de volta:
palavras aliviadas, olhares extasiados, passos levianos
Um selinho de despedida
encerrando ali qualquer cumplicidade.

Depois disso peguei-me com o dedo nos lábios
tocando sensações estranhas.
Voltamos a nos falar pelo telefone,
mas foi indiferente àquele dia.
Se pudesse mudar,
talvez escolheria o desencontro:
um dos dois mudando de cidade repentinamente
perdendo o número do telefone, os contatos da internet
aguçando a imaginação, confundindo as lembranças
pra melhor ou pior.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

24 horas com cara de umas 10 das lentas

Noite de céu escuro. E já estava com saudades de noites com o céu assim, o céu dessa cidade costuma ser avermelhado, cor de vinho. Me questiono se o homem já chegou ao ponto de mudar a cor das madrugadas.
Noite quente, antecedida por um dia mais quente ainda. Não lembro de ter dormido muito na madrugada passada, mas lembro de ter tido um sonho. Não sei se prefiro os sonhos de hoje ou a época em que eu não sonhava (ou pelo menos não lembrava deles). Alguns sonhos parecem servir apenas para dar alfinetadas na gente com lembranças indesejadas.
Sigo o resto do dia com sono e grudento, o ventilador parece não ventilar o suficiente. Deitei no chão pra tentar ajudar, tentei meditar. Ambos falharam.
A água estava com gosto de sabão, fui tomar um sorvete picolé. Sentei num banco, conversei, dei risada, deitei no mesmo banco, tirei os óculos, coloquei eles de volta, terminei a conversa contra a minha vontade.
Escureceu e veio a parte mais difícil de lembrar do dia. Dormi depois de assistir a um desenho. Depois acordei e comi um sanduíche. Tive uma sensação ruim de incapacidade em saciar minhas vontades que durou pouco mais de uma hora.
Olhei pra um brinquedo que comprei esses dias, que aparentemente é feito de uma bexiga verde com massinha dentro, cabelo vermelho e olhos negros. Modelei nele um sorriso bobo e amarelo. Abri a cortina como quem abre a porta da geladeira e olhei pro céu. Escrevi um texto no computador e algum tempo depois fechei a janela.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

Would? (Alice in Chains)

Eu poderia escrever um livro tamanho Bíblia falando sobre essa música, mas fã babando ovo ninguém merece. Só vou falar que é a trilha sonora dos meus últimos meses.
Link da música aqui.
E a letra alí:



Know me broken by my master
Teach thee on child of love hereafter

Into the flood again
Same old trip it was back then
So I made a big mistake
Try to see it once my way

Drifting body its sole desertion
Flying not yet quite the notion

Am I wrong?
Have I run too far to get home
Have I gone?
And left you here alone
If I would, could you?

quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

O Sereno e O Explosivo na balança

Talvez seja parte de crescer
não entender.

domingo, 14 de janeiro de 2007

sem Distinção

Tempo que começa não pelo início,
mas pelo fim de algo,
e ecoa.
E já faz tanto tempo que nada acontece
que eu já nem sei mais. Sabe?

E esse ar de temporalidade,
de segundos barulhentos...
de máquinas que vão rangendo...
de móveis parados.

Eu me acomodo mesmo na posição
mais desconfortável,
de acordo com a minha a-vontade.

É apenas mais um dia perdido
que rolou pra debaixo do sofá
pra nunca mais ser encontrado.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

O Silêncio da Casa

Tchuiiim...
Blablablabléblablóbla
goooolblablébluuuuuuu... blabl...
blébl... bl....
blablablébliblo... blablablé...
blablablainteressanteblablablablablahahablaBUM!
Blobléblablebloblablablaohhhhhhhhh
blablobloblimblim.
Blablóbléblatsssss
blabliblotsssssssssssssssssssssssss...
tsss...
tis...
tss...
tsss. bruoooooom... tssssss,
pitchum.

sábado, 6 de janeiro de 2007

Duda Pih novamente

Estou iniciando um novo blog após tentativas frustradas de passar o blog antigo pro "novo Blogger". Aproveitei e dei um Ctrl + I no Paint e adicionei um "2" na imagem do título, pra ficar com cheirinho de novo. Também vou refazer a parte da direita do blog em questão de tempo.
Vou ficar os próximos dias em São Paulo pra fazer três provas (não é bem o tipo de viagem que eu tinha em mente pras minhas férias), talvez se eu tiver um computador lá eu mexo alguma coisa na parte de links e mantenho contato pelo Orkut e MSN fazendo a cobertura completa da minha execução de três dias, pra botar inveja em qualquer ditadorzinho do oriente médio.
That's all folks!