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quarta-feira, 28 de março de 2007

Box

Levantou-se do chão após várias tentativas e foi tomar um banho. Queria se tocar, mas sem gozar. Não gostava o suficiente dos seus orgasmos.
Pegou uma toalha, roupas e entrou no banheiro, mas não ia funcionar. Já esparava a depressão, mas em menor intensidade.
Entrou no box, ligou o chuveiro e se vendo longe dos olhos das outras pessoas se sentiu pior. Começou a chorar como a muito não chorava. Grunhiu involuntariamente pela garganta como um animal. E pensou o quanto tudo aquilo era horrível, sentiu desgosto pelo seu estado deplorável, sentiu ódio do mundo. Mas continuou com a cara limpa, apesar do choro não derrubou uma única lágrima. Continuou o seu banho quase normalmente.
Saiu do box e enquanto se secava olhou para o espelho. Esperava encontrar-se horrível, mas teve a sensação de que poderia vender o seu corpo facilmente com um pouco de maquiagem. Não olhou nos olhos como costumava. Nem tomou fôlego, abriu a porta do banheiro deixando a toalha molhada e a roupa suja para trás.

quarta-feira, 14 de março de 2007

Pouco-caso

A veia salta,
o sangue sobe,
o sangue é quente,
o ar é pouco.

O espaço é pouco,
movimentos bruscos são pouco.
Excita-se um olho
pelo buraco da fechadura.

Nada escapa por ali
além de um feixe de luz
composto de muitas cores.
A pupila é indecisa.

As mãos também.
Mas diferentes da pupila,
buscam apoio.

Foi catalogado
em: causa, consequência,
discussão e solução.
Nome? O que não tem?

Foi reduzido
em meia página
de uma enciclopédia,
como se fosse suficiente.

quinta-feira, 8 de março de 2007

8 de Março

No dia 8 de março de 1911, em Nova York, acontecia uma manifestação liderada por mulheres trabalhadoras da indústria têxtil que protestavam contra as más condições de trabalho nas fábricas e os salários reduzidos. As protestantes foram trancadas dentro da fábrica pelos patrões e pela polícia, que ateram fogo no prédio. 129 trabalhadoras morreram carbonizadas nesse dia.
Essa não foi a primeira das manifestações de cunho feminista conhecidas, mas acabou tornando-se um marco das lutas pelos direitos iguais entre a mulher e o homem. Várias conquistas foram obtidas apartir das manifestações do 8 de março, por exemplo, o direito a voto e melhores salários.
O movimento feminista atua em diversas frentes como contra a violência à mulher, direitos civis, melhores condições de trabalho e de remuneração, pelo seu papel na sociedade e na família, dentre outras causas.

Homens e mulheres têm diferenças e não são poucas, acho isso evidente. Existem várias vertentes do movimento feminista, a que eu mais acredito e dou total apoio é a que aceita diferenças entre os sexos (alguns até são contra o termo "feminismo" que pode sugerir um sexismo), mas que estas não sejam utilizadas como argumento para o preconceito e o desrespeito.
O problema é que essas diferenças costumam ser mal interpretadas à favor do homem. Por exemplo o fato de os homens terem uma musculatura mais desenvolvida resultar de expressões como "sexo frágil" ou de tratar as mulheres como incapazes de certas atividades devido ao seu corpo. É ignorante chamar de frágil uma pessoa que desloca a bacia pra poder parir um filho, ou vários.
Ou até mesmo coisas mais simples que costumam passar desapercebidas no nosso vocabulário, como referir-se à humanidade como "o homem". Pode parecer pequeno, mas há os que defendem a teoria de que a língua utilizada tem um impacto enorme nas relações sociais. Em contraponto à isso, existem outras línguas que possuem pronomes masculinos, femininos e neutros.
Apesar de o 8 de março ser marcado pela tragédia do assassinato cruel de 129 mulheres, não encaro esta como uma data triste. Vejo ela como a continuação da luta daquelas que morreram em nome de direitos que as mulheres de hoje têm (apesar de os contrastes da posição entre os sexos na sociedade ainda serem gritantes), além da celebração dos direitos iguais na humanidade, independete de credo, etnia ou sexo.
Desejo à todas um feliz Dia Internacional da Mulher.




Fonte: www.wikipedia.org (Feminismo e Dia Internacional da Mulher)

Obs: é capaz de a data da manifestação da fábrica estar errada, já li também que o ano certo é 1857.

domingo, 4 de março de 2007

Designificando

De vez em quando,
assim de repente
eis que surge um trecho da gente
que qualquer que seja a oração
não consegue esboço nem contorno.

De vez em onde?
Não há ponta de
caneta que dê suporte;
dentro do corpo
não se encaixa justo.

Acaba sempre a extravasar
pelo buraco do olho,
por entre as costelas.
Criança levada de qualquer coisa
correndo da mão de atravessar a rua.

Voz alguma seria afago materno,
conselhos quaisquer não soariam paternos.
Mesmo todas as combinações
de todas as palavras
ainda não conseguem codificar
esse significado.

Envolto no ar do trompete
nas mãos de um negro
dos dedos soltos que
cantava coisas sobre a meia-noite
me dei a contemplar.

E percebi que
quando me vem esse trecho
apenas espero escutar
a música instrumental da madrugada
e que ela faça tanto sentido
quanto o giro sem rumo de um ventilador.