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sábado, 20 de dezembro de 2008

Oriente - Gilberto Gil

Letra e textos do site do Gil.

Se oriente, rapaz
Pela constelação do Cruzeiro do Sul
Se oriente, rapaz
Pela constatação de que a aranha
Vive do que tece
Vê se não se esquece
Pela simples razão de que tudo merece
Consideração

Considere, rapaz
A possibilidade de ir pro Japão
Num cargueiro do Lloyd lavando o porão
Pela curiosidade de ver
Onde o sol se esconde
Vê se compreende
Pela simples razão de que tudo depende
De determinação

Determine, rapaz
Onde vai ser seu curso de pós-graduação
Se oriente, rapaz
Pela rotação da Terra em torno do Sol
Sorridente, rapaz
Pela continuidade do sonho de Adão



--- x ---



A "voz" - "Eu e Sandra [Sandra Gadelha, a terceira mulher de Gil] estávamos em Ibiza, na Espanha, numa casinha que tínhamos alugado num bosque de eucalipto. Era um fim de tarde de verão; tínhamos ido à praia e tomado orchata de chufa. Eu estava sentado à porta do chalé, fitando a transição do céu azul para o céu noturno; começavam a surgir as primeiras estrelas. Sandra lá dentro, preparando alguma coisa, e eu ali, quieto. De repente eu vi uma estrela cadente e aquilo me deu interiormente a sensação de uma voz. 'Se oriente!' - surgiu essa voz. "Se oriente, rapaz". Aí eu entrei, peguei papel e lápis, e..."

De como os sentimentos e as reflexões foram nutrindo a inspiração poética e a composição se transformando numa condensação de símbolos - "Da saudade do sul - do hemisfério sul - veio a idéia do Cruzeiro como orientação, como se eu tivesse de me lançar ao mar em busca da redescoberta da minha terra (Cabral, as três caravelas, as navegações: tudo isso vinha à cabeça), desencadeando-se a seguir a meditação sobre a minha situação no exílio, com uma auto-justificação da necessidade da viagem e uma metáfora para o sacrifício da aventura forçada (os navios negreiros, o trabalho escravo no porão dos negreiros; tudo vinha à cabeça e os pensamentos iam sendo sintetizados nos versos).

"O fato de eu ter feito o projeto da familia, a faculdade; de ter recusado uma pós-graduação na Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, para assumir o trabalho na Gessy-Lever e ficar em São Paulo perto de Caetano, de Bethânia, de Gal, do projeto pessoal, a música; e de o trabalho na Gessy-Lever ter sido uma espécie de pós-graduação também, assim como a situação do exílio tinha para mim um significado de pós-graduação... Por tudo isso Oriente é a música minha que eu considero mais pessoal e auto-solidária, mais solitária. Não sou eu em relação a uma mulher ou a uma cidade; sou eu em relação a mim mesmo, a um momento de vida. Back in Bahia também é auto-referente; ela e Oriente são complementares. Minhas músicas da época são assim. Expresso 2222 é meu disco mais elaborado no sentido de relatar um período."

Atmosfera oriental - "O 'sorridente' foi lembrança remota e inconsciente dos versos de Rogério Duarte comigo em Objeto Semi-Identificado: 'sorridente' contém 'oriente'. (O uso do termo ali dá também um alívio em relação ao tom de cobrança de antes: 'se oriente', 'considere', 'determine'). O clima do oriente estava no ar: os hare-krishna, os tarôs, os I-Chings. E eu estava num ambiente propício para a referência adâmica do final; Ibiza era o paraíso da contracultura, refúgio de hippies de todo o mundo: europeus, americanos, brasileiros, indianos."

sábado, 6 de dezembro de 2008

postes postos póstumos
que minha lâmpada lamba
o cu do seu breu

domingo, 9 de novembro de 2008

Minha primeira publicação impressa!

Esta semana está sendo lançada a Revista Originais Originais Reprovados #4, organizada pelo pessoal da Editoração da USP. Nessa revista são publicados poemas de vários escritores da USP e um poema meu foi selecionado para esta edição. O lançamento vai acontecer em três lugares de São Paulo:
- Feira do Livro, esta semana, de quarta a sexta, ao lado do stand da Edusp
- Quinta & Breja, dia 13, a partir das 18:00 (ECA - USP Butantã)
- Happy-hour da FAU, dia 14, a partir das 18:30 (FAU - USP Butantã)

Caso alguém possa comparecer seria muito bacana!

Ah, e logo mais vem outra publicação, esta, uma antologia de poetas das faculdades de Letras, organizada pelo professor e escritor Antonio Serafim Pietroforte, do curso de Letras da USP.

domingo, 2 de novembro de 2008

paisagem

soldados de chumbo de verde plástico
contar todas as paixões em uma só mão
com a pinça dos dedos procurar por algo grande demais
eu sinto
que após você
tudo daria
uma grande, enorme, poesia

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

desce uma dose

desce uma dose
em nome de todos os nomes
de todos os santos
em nome
da distante Santos
que esse momento seja inteiro
bêbado, perca a sensação de momento
montanha momentânea
que rolem
as últimas conversas
sobre as mesmas primeiras e todas as coisas

esta noite nos acompanham
algumas luzes das janelas acesas
alguns postes acesos
idéias ascendem
fora de nossas cabeças
uma absurda fascinação cresce
por sobre as coisas mais absurdas

há cartas e mangas na mesa
os amores em jogo
mas só de brincadeira
estão esquentando
as cervejas nos copos
enquanto a noite
surdamente
amanhece por debaixo da escuridão
mas ninguém percebe

desce mais uma dose
em nome da própria dose
brisas distantes estão chegando tarde
é preciso estar acordado
quando era preciso estar sonhando

há um alguém que canta na mesa
e um qualquer que toca um violão
há um poeta que colhe
dados para sua quimera
e o gosto do sorriso de quem namora
na boca dos solteiros

tudo girando e impondo à noite
à todas as rodas das mesas
uma certa melancolia
e uma certa verdade
contidas nesta poesia etílica
incessantemente
até que as janelas escureçam
as luzes do bar se apaguem
nós apaguemos
e restem apenas
as luzes daqueles postes acesos
feito as últimas estrelas desse céu

domingo, 19 de outubro de 2008

um poema em 18 minutos com a palavra pitanga - extended and concrete version

pensei em colher
                                     com colher
essa sempre                         lembrança
                            lambança
que me dá de você
                , mulher
a Camila Pitanga na TV
                                               qualquer

mas você é bem mais vermelinha
                                                 safadinha



-pra cê ver o quanto eu tô levando esse blog a sério

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

probeza sem dó
contar todas as estrelas
em uma mão só

sábado, 20 de setembro de 2008

um poema em 18 minutos com a palavra pitanga

pensei em colher
essa sempre lembrança
que me dá de você
a Camila Pitanga na TV

mas você é bem mais vermelinha

sábado, 13 de setembro de 2008

madrugada adentro
irrompe o estrondo de um soco
a mãe em silêncio

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Exercendo

eu sei
eu ando ausente
mas não esquente
verso a verso
eu tenho subido de patente

quando chegar a tenente
volto aqui com um poema
que seja, no mínimo, decente.



Só uma brincadeira pra passar o tempo e atualizar o blog.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Crises de Relacionamento

Meu bem,
eu ando sem inspiração.
Isso não está nada bem.
Será que eu perdi tesão
por algo
ou por alguém?

Meu bem,
eu sei que não.
Não há no mundo coisa igual
nós já escrevemos tanta coisa juntos,
etcetera e tal.

Não sei, meu bem...
eu acho que isso
pode já ter sido
o nosso final.

domingo, 13 de julho de 2008

Jornada

Fuçando os antigos rascunhos do meu blog achei esse post que eu nunca postei e gostei dele. É datado de 21/01/07, é sobre o dia em que eu aluguei Sonhos, do Akira Kurosawa. Era pra ser uma recomendação do filme, mas achei que se eu fosse falar qualquer coisa sobre ele eu iria estragá-lo. Fica só a recomendação sem explicações então.
Pra me dar mais motivação de não escrever nada nas férias eu devo ficar postando umas coisas antigas aqui.
Segue o texto:


Sou um viciado assumido em filmes.
Saímos numa jornada por uma locadora no bairro, fiz uma ficha na mais próxima. A locadora tinha uma entrada e uma saída, catálogo, ar-condicionado, muitos atendentes para poucos clientes. Você tem que pegar a caixa de traz, a da frente é só para amostra.
Ah, a locadora tinha uns filmes também. A maioria não faz o meu tipo (na verdade são filmes ruins, fora dos parenteses a gente tem que ser ético), mas tinha um no mais canto dos cantos, na estante mais distante da entrada (e da saída também), na prateleira mais longe dos olhos um filme que me chamou a atenção e que já tinha sido recomendado por uma professora de literatura. Foi esse mesmo.
No caixa descubro uma locadora em que não se pode pagar na volta. Volto em casa, pego o dinheiro, volto na locadora.
Entro pela entrada, a atendente faz uma piada sobre o incoveniente, eu também faço a minha sobre o meu incoveniente e finalmente consigo alugar o filme. Saio pela saída.
De qualquer forma, o filme valeu a jornada. Valeu até um post de blog.
Só resta a dúvida: por que raios uma locadora tem duas portas, uma de entrada e outra de saída? Arrrrrhhhhh.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Even me, even me...

Até agora tenho seguido fielmente o meu plano de não escrever nada nas férias.
Mentira, escrevi um rascunho de um texto em prosa aqui, mas, como eu já imaginava, tão fraquinho que não vai vir pro blog.
Eu larguei mão de ler tanta poesia também, tenho lido uns livros de prosa durante as férias. Romances e não-ficções.
Mas tem esse poema do Jack Spicer, com tradução do Ricardo Domeneck, que eu descobri no Revista Modo de Usar & Co (espero que eles não se importem, está devidamente creditado, não?) que canta muito bem um certo bloqueio em um certo ponto da poesia que, acredito eu, todo mundo tem. Gosto de pensar nos grandes poetas, como o Drummond, Bandeira, até mesmo os que eu só conheço de nome e que são importantes, tendo esse bloqueio. Dá uma coisa de humano nele, de algo não superável pelo nosso trabalho. Não queria vencer isto pra sempre, só às vezes que é bom (uma baita de uma ilusão).


Thing Language


This ocean, humiliating in its disguises
Tougher than anything.
No one listens to poetry. The ocean
Does not mean to be listened to. A drop
Or crash of water. It means
Nothing.
It
Is bread and butter
Pepper and salt. The death
That young men hope for. Aimlessly
It pounds the shore. White and aimless signals. No
One listens to poetry.



Língua Coisa

Este oceano, humilhante em seus disfarces
Resiste a tudo.
Ninguém sintoniza na poesia. O oceano
Emite ondas para a sintonia de ninguém. Gota
Ou tromba d´água. Omite
Significados.
É
Manteiga e pão
Pimenta e sal. A morte
Que os jovens almejam. Sem mira
Alveja as margens. Sinais sem mira, alvos. Ninguém
Sintoniza na poesia.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Hoje:

é meu primeiro dia de férias.
Eu venho percebendo a um tempo minha insatisfação com o blog. O último post que realmente me impolgou foi o Um Pós-Moderno, e quando eu postei eu nem gostava do poema, só depois que eu fui pegar gosto por ele. Eu tenho vários poemas guardados, mas nenhum deles me agradou. Eles precisam que eu trabalhe mais neles, mas acho difícil que isso vá acontecer.
Eu ando sem paciência pra ler o blog dos outros também, já faz algum tempo que eu não escrevo um comentário. Mas tenho lido bastante fora da internet e tenho feito planos de leitura pra essas férias.
Meu melhor plano de escrita pra essas férias é o de não escrever, mas talvez eu acabe fugindo a ele.
Muitos planos de filmes para ver, muitos filmes baixados, não assistidos e a serem gravados em dvd.
Pretendo tocar bastante baixo nessas férias, talvez até toque em palco. Nada muito pós-moderno.
Talvez eu bole algum plano pra este blog também.

E et cetera, que eu descobri que é latim.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Dois poemas

mas vai, de caneca pelos bancos da nau veloz
corre e das cavas jarras arranca as tampas,
e toma o vinho rubro desde a borra, pois tampouco nós
sóbrios, poderemos nesta vigília permanecer


Fragmento de um poema de Arquíloco (que viveu lá pro século VII a.C.) trauduzido por Paula Corrêa.
Adorei ficar sabendo que o ser humano já era bem humano desde a antiguidade.

O outro poema:



os carros da enxurrada

Tombavam pela encosta
em altas cambalhotas
amáveis vendavais cheios de urros
e os carros da enxurrada
iam desabalados como o amante
pelo corpo da amada vai catando
a inesgotável pedraria.

Gira, perdoa, canta,
meu ágil coração, pura bandeira
de música tecida por mãos leves
para cobrir o corpo quando um dia
tiver estado morto, mas também -
e isso principalmente - para ir
aberta como um livro claríssimo
e sendo profanada pela brisa.


de Rubens Rodrigues Torres Filho.

Este eu tenho que dissecar e apresentar um trabalho de interpretação dele.

terça-feira, 3 de junho de 2008

"quase um 'haiquase' "

 
pela escuridão da serra
meus olhos caçam luzes
como se elas fossem
vagalumes

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Um Pós-Moderno

Eu andei deixando a barba crescer.
Tava sem fazer nada em casa, na vida,
nesses tempos em que eu andei deixando a barba crescer.
Sai de casa pra fazer o que tinha que fazer
e esqueci de propósito o guarda-chuva.
E obviamente choveu. Eu acho que a chuva me faz bem.
Tinha resolvido tomar uma cerveja,
já estava de barba mesmo.
Cerveja me lembra ela, às vezes, por causa de uma música.
Eu sei que tudo isso
é muito egocêntrico, autobiográfico e pseudo-poético,
só porque eu botei em versos.
Mas eu só sai de casa assim mais bonito
pra poder pensar melhor como ela era bonita
e como eu ficava bonito ao lado dela.
Cheguei em casa
e botei um som bem pós-moderno
pra escrever este poema.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Calculado

A cada pulso
um impulso

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Judiaria

letra: Lupicínio Rodrigues

Agora você vai ouvir aquilo que merece
As coisas ficam muito boas quando a gente esquece
Mas acontece que eu não esqueci a sua covardia
A sua ingratidão
A judiaria que você um dia
Fez pro coitadinho do meu coração
Essas palavras que eu estou lhe falando
Têm uma verdade pura, nua e crua
Eu estou lhe mostrando a porta da rua
Pra que vocês saia sem eu lhe bater
Já chega o tempo que eu fiquei sozinho
Que eu fiquei sofrendo, que eu fiquei chorando
Agora quando eu estou melhorando
Você me aparece pra me aborrecer

terça-feira, 13 de maio de 2008

Dente Por Dente

à Beatriz Marchese                                                   


A conheci de longe
e mal sabia, os lábios
fechados nada me diziam.

E francamente
ela ainda não era
nada para mim.

Ainda francamente,
num movimento repentino,
seus dentes surgiram.

Na estrofe seguinte
eu já ria dos risos dela.
Dentes tantos

que no meio de qualquer dia
refletiam a luz do Sol
e me faziam coçar os olhos.

A cada dente
um brilho diferente
ela explodia.

Cada vez mais dentes
aos poucos revelava
uma nova constelação.

Quem estava por perto
bem sabia o seu mistério
que não era segredo algum.

Eu só não sei dizer
se quem brilhava mais
eram seus dentes

ou seus olhares.
E esta é uma história
que não teve fim.

Ela ri até hoje,
até neste poema,
até em mim.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

O Novo Bárbaro

You don't know me
Bet you'll never get to know me
You don't know me at all
Feel so lonely
The world is spinning round slowly
There's nothing you can show me
From behind the wall

"Nasci lá na Bahia
De mucama com feitor
O meu pai dormia em cama
Minha mãe no pisador"

"Laia ladaia sabadana Ave Maria
Laia ladaia sabadana Ave Maria"

"Eu agradeço ao povo brasileiro
Norte, Centro, Sul inteiro
Onde reinou o baião"



You Don't Know Me, do álbum Transa, de Caetano Veloso.

Já fazem três dias que eu conheci essa música e passei a escutar ela incessantemente. Na verdade já tinha escutado ela antes, mas estava muito desatento na hora, nem me lembrava de como ela era. Mesmo se tivesse prestado atenção antes, provavelmente eu não estaria tão empolgado, ela não teria feito tanto sentido como me fez esses dias, com certeza.

Além do ritmo, que também é ótimo, e da própria interpretação do Caetano, que acho que não poderia ser melhor, a letra mexeu bastante comigo. Achei ela singela. Antes eu poderia ter só achado que não tinha nada de mais, mas pensar que o próprio sentimento que eu sinto com relação à música é singelo, faz o sentido dela ir além. Talvez esse sentimento não tenha mesmo "nada de mais". O que não me impede de adorar essa música.

E é engraçado tudo isso que ela me passa porque eu andei pensando esses dias sobre o quanto as coisas costumam ganhar e perder sentido (pensando quantitativamente) com o passar do tempo. Passar do tempo, girar do mundo, ou o que seja.

E indo contra essa sensação de que os sentimentos são etéreos, a impressão que eu tenho é de que esses dias, ao escutar ela, meus sentimentos fossem mais eternos. Como se, de fato, o mundo estivesse girando mais devagar.

E mesmo que logo eu comece a "enjoar" um pouco dessa música, o que provavelmente vai acontecer, esse sentimento vai saber que possui morada - na minha memória.



Essa música também veio a me lembrar de um poema bem curto que eu escrevi a uns dois meses atrás, que agora tem uma boa desculpa para ser postado aqui.


passava
tão vagarosamente
que eu quase
deixava
o mundo
girando
passar por mim

domingo, 4 de maio de 2008

Diálogo sobre o tempo

            (ou Experimentando o que eu acho que se chama escrita livre)




A: Aqui neste quarto faz tanto tempo agora. Apesar de aqui não haver nenhum relógio marcando os segundos eu sinto como se cada canto estivesse permeado por todo o tempo.
B: Eu não sinto nada do que você está dizendo. Me sinto bem... Sinto um cansaço.
A: Também sinto o mesmo, pelo mesmo motivo que você, mas não consigo desligar minha mente dessa sensação.
B: No máximo, eu consigo sentir um pequeno sentimento de agora. Deve ser o sono chegando em mim. Você tomou muito café hoje.
A: Talvez. Aliás, o dia de hoje me soa como algo distante, como se tudo que eu tivesse feito já tenha sido a muito tempo atrás. Como se a muito tempo, tirando essa reflexão, eu não fizesse nada.
B: Não sei se entendo muito bem o que você quer dizer.
A: É como se, pra mim, o agora fosse muito menor do que todo o resto do tempo.
B: Uhm. Não sei, me parece que eu não fiz nada durante todo esse tempo que você fala, exceto agora.
A: Como assim?
B: É como se pra mim não existisse muito essa noção de tempo. Acho que, por eu não conseguir pensar muito no tempo, talvez ele exista menos para mim do que para você.
A: Entendo. Mas assim me parece que você tem bem mais tempo do que eu, só não sabe disso.
B: Se for, acho que não sei mesmo. Pelo menos assim eu uso esse tempo pra fazer inveja nos outros (sorriso).
A: (sorriso) É...
B: .

A: Acho que agora sou eu que estou com sono.
B: Eu já perdi o meu. Vem cá...

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Partida da Estação

Ruídos apressados pelo ar,
a vida passeando.
A saudade vem se aproximando dentro do ônibus.

Ônibus parado. Ao lado,
o lugar onde os abraços contidos
e os beijos guardados na velha geladeira
se derramam pelo chão.
Poucas palavras cabem
em tamanho sentimento.
Tantas palavras para tão pouco tempo.
As lágrimas deixam os sorrisos mais molhados.

Logo vem o último toque.
A porta do ônibus fechando.
O motorista tem que pisar no acelerador.
E a gente não sabe onde está:
se na metade que ficou
ou na metade que vai embora.
A gente senta na poltrona
e pára pra sonhar
enquanto o mundo corre lá fora.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Café

Engulo à seco
um pedaço desta noite
pra ficar com um pouco mais desse dia.

domingo, 20 de abril de 2008

O Sol e A Lua

Meio-dia,
o Sol, feito um rei,
incandescia:
"nada de novo sob mim".
E assim a tarde se fazia.
Até que o Sol
foi derrubado no horizonte.
Desceu a noite
e a Lua, subversiva,
gemeu surdamente
um ar diferente
acordando o nosso sonho
que antes
jazia.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

 

chuva forte                                                         
vento                                                         
o sereno                                                         
corria pra dentro                                  
 

sexta-feira, 4 de abril de 2008

haiquase #3

 
passos pela rua
as nuvens escondem
parte da lua

domingo, 23 de março de 2008

anos dourados

lembra?
a gente falava tanto
que alguém pegou no sonho

terça-feira, 18 de março de 2008

desencanto
mais uma vez
me volto pro meu canto

domingo, 16 de março de 2008

38 perguntas e respostas

Fui convidado pela Mariana a participar de uma corrente de blogs, daquelas estilo antigonas de responder dezenas de perguntas. Não sou muito de correntes e coisas do tipo, isso aqui nem parece muito com um blog, parece mais um arquivo de poemas. Mas resolvi participar, quem sabe assim eu acredito ou faço acrediar que isso é um blog.



Se eu fosse um mês seria... Outubro. Os meses do primeiro semestre eu tenho muito certos na minha cabeça, os do segundo pra mim são um pouco mais misturados, gosto disso.

Se eu fosse um dia seria... hoje!

Se eu fosse um número seria.... 6?

Se eu fosse um móvel seria.... uma escrivaninha.

Se eu fosse um líquido seria.... a água.

Se eu fosse um pecado seria.... avareza.

Se eu fosse uma pedra seria.... uma pedra bem grande, pra ninguém ficar me tacando por aí.

Se eu fosse um metal seria... ferro.

Se eu fosse uma árvore seria... alguma qualquer que desse bastante sombra, botânica não é meu forte.

Se eu fosse uma fruta seria.... uma laranja. Haja vitamina C.

Se eu fosse uma flor seria... um cravo. E brigaria com a rosa.

Se eu fose um clima seria... frio de dia ensolarado.

Se eu fosse um instrumento musical seria... uma guitarra.

Se eu fosse um elemento seria.... a água. [2]

Se eu fosse uma cor seria.... o azul.

Se eu fosse um animal seria... um macaco.

Se eu fosse um som seria.... o som do "silêncio amplificado no amplificador".

Se eu fosse uma letra de música seria... "Would?", do Alice in Chains.

Se eu fosse uma canção seria... podia ser "Would?" também.

Se eu fosse um estilo de música seria... jazz. Mas com certeza um dia eu ia enjoar de mim mesmo e ia flertar com o rock.

Se eu fosse um perfume seria.... Aquabrasilis.

Se eu fosse um sentimento seria.... um só? Dá uma olhada um post abaixo.

Se eu fosse um livro seria.... essa eu não sei MESMO. Talvez eu nem tenha lido esse livro ainda.

Se eu fosse uma comida seria.... "pasto". Haha não, seria um bom arroz, feijão, salada e carne.

Se eu fosse um lugar (cidade) seria... quem sabe Santos mesmo...

Se eu fosse um gosto seria... gosto de beijo.

Se eu fosse um cheiro seria.... cheiro de grama molhada da chuva.

Se eu fosse uma palavra seria.... "eu".

Se eu fosse um verbo seria... "ser".

Se eu fosse um objeto seria.... escrivaninha é um objeto, guitarra é um objeto... as perguntas começam a soar um pouco repetitivas.

Se eu fosse uma roupa seria... casaco de moletom.

Se eu fosse uma parte do corpo seria.... uma mão.

Se eu fosse uma expressão seria.... poesia.

Se eu fosse um desenho seria.... Tom e Jerry.

Se eu fosse um filme seria.... difícil essa. Sem certeza, por hoje seria o Amores Expressos, do Wong Kar-Wai.

Se eu fosse uma forma seria.... uma elipse.

Se eu fosse uma estação seria.... outono.

Se eu fosse uma frase seria... "acabaram as questões".



Ah, e pra concluir não vou nomear ninguém pra continuar a corrente, não sei se as pessaos que lêem meu blog iam gostar da idéia. Fica o convite pra qualquer um que quiser responder às perguntas. :)

quarta-feira, 5 de março de 2008

Bons Tempos

Uma vez
quebrei a cara feio.
De um tombo só
torci o pulso,
esfolei o joelho.
Um tremendo susto.

Daí eu me disse:
"já sei o que vou ser".
Decidi ser triste,
e para isso não precisava
esperar crescer.

Triste, fui assim
por alguns minutos longos,
completos e azuis minutos...

Mas a vida é toda pintada de uma cor
que não dá pra dizer.
Arrombando o meu coração
invadiram-me sentimentos mil.

Minha tristeza tão apreciada
foi se fazendo em pedaços, desbotando...
Eu me debatia, queria resistir,
mas não pude, por algum motivo
tinha de ser assim.

Entrei num estranho e alegre luto
e vivi o tempo de um dia como pude.
Depois, nem liguei muito.

Agora, as lembranças
daquela velha tristeza
me vêm apenas nos dias de finados,
quando relembro aqueles bons tempos
e me sinto nostálgico.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

"haiquase" #2

 
temporada
a janela insiste
em ficar fechada

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

"haiquase"

 
muito sol
muito tempo
chove em um piscar de olhos

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

sobras do panfleto incompleto

I - Paciência

tinha mais que uma pedra
no meio do caminho das pedras


II - Realidade

sentiu-se só
na dor que era de todo mundo e de mais ninguém

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

me dei e parei
em uma rua de triplo sentido:
pro lado esquerdo
pro lado errado
e o sentido algum
de ficar parado

continuei
pra qualquer lado

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Caminhada

passo a passos                              
passo                              
o chão para trás                              

passo
faço
o caminho

passo pelo espaço                              
discreto                              
ou com estardalhaço                              

passo o passo
tato da sola
em contato com o solo

passo a passo                              
calçado                              
e calçada                              

passo
pra frente
não desfaço

passo                              
tropeço                              
de cadarço                              

passo porque posso
às vezes
passo a vez

passo                              
a vez                              
às vezes passa                              

passo
o presente
pro passado





A formatação do texto ainda ficou devendo (eu tenho sérios problemas com isso no blogspot). Mas está bom.
Talvez eu mude as cores daqui, pra ficar com novos ares, pra 2008.
Caminhar exercita a mente e o corpo.
Ah, e um feliz ano a todos!