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quinta-feira, 29 de maio de 2008

Um Pós-Moderno

Eu andei deixando a barba crescer.
Tava sem fazer nada em casa, na vida,
nesses tempos em que eu andei deixando a barba crescer.
Sai de casa pra fazer o que tinha que fazer
e esqueci de propósito o guarda-chuva.
E obviamente choveu. Eu acho que a chuva me faz bem.
Tinha resolvido tomar uma cerveja,
já estava de barba mesmo.
Cerveja me lembra ela, às vezes, por causa de uma música.
Eu sei que tudo isso
é muito egocêntrico, autobiográfico e pseudo-poético,
só porque eu botei em versos.
Mas eu só sai de casa assim mais bonito
pra poder pensar melhor como ela era bonita
e como eu ficava bonito ao lado dela.
Cheguei em casa
e botei um som bem pós-moderno
pra escrever este poema.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Calculado

A cada pulso
um impulso

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Judiaria

letra: Lupicínio Rodrigues

Agora você vai ouvir aquilo que merece
As coisas ficam muito boas quando a gente esquece
Mas acontece que eu não esqueci a sua covardia
A sua ingratidão
A judiaria que você um dia
Fez pro coitadinho do meu coração
Essas palavras que eu estou lhe falando
Têm uma verdade pura, nua e crua
Eu estou lhe mostrando a porta da rua
Pra que vocês saia sem eu lhe bater
Já chega o tempo que eu fiquei sozinho
Que eu fiquei sofrendo, que eu fiquei chorando
Agora quando eu estou melhorando
Você me aparece pra me aborrecer

terça-feira, 13 de maio de 2008

Dente Por Dente

à Beatriz Marchese                                                   


A conheci de longe
e mal sabia, os lábios
fechados nada me diziam.

E francamente
ela ainda não era
nada para mim.

Ainda francamente,
num movimento repentino,
seus dentes surgiram.

Na estrofe seguinte
eu já ria dos risos dela.
Dentes tantos

que no meio de qualquer dia
refletiam a luz do Sol
e me faziam coçar os olhos.

A cada dente
um brilho diferente
ela explodia.

Cada vez mais dentes
aos poucos revelava
uma nova constelação.

Quem estava por perto
bem sabia o seu mistério
que não era segredo algum.

Eu só não sei dizer
se quem brilhava mais
eram seus dentes

ou seus olhares.
E esta é uma história
que não teve fim.

Ela ri até hoje,
até neste poema,
até em mim.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

O Novo Bárbaro

You don't know me
Bet you'll never get to know me
You don't know me at all
Feel so lonely
The world is spinning round slowly
There's nothing you can show me
From behind the wall

"Nasci lá na Bahia
De mucama com feitor
O meu pai dormia em cama
Minha mãe no pisador"

"Laia ladaia sabadana Ave Maria
Laia ladaia sabadana Ave Maria"

"Eu agradeço ao povo brasileiro
Norte, Centro, Sul inteiro
Onde reinou o baião"



You Don't Know Me, do álbum Transa, de Caetano Veloso.

Já fazem três dias que eu conheci essa música e passei a escutar ela incessantemente. Na verdade já tinha escutado ela antes, mas estava muito desatento na hora, nem me lembrava de como ela era. Mesmo se tivesse prestado atenção antes, provavelmente eu não estaria tão empolgado, ela não teria feito tanto sentido como me fez esses dias, com certeza.

Além do ritmo, que também é ótimo, e da própria interpretação do Caetano, que acho que não poderia ser melhor, a letra mexeu bastante comigo. Achei ela singela. Antes eu poderia ter só achado que não tinha nada de mais, mas pensar que o próprio sentimento que eu sinto com relação à música é singelo, faz o sentido dela ir além. Talvez esse sentimento não tenha mesmo "nada de mais". O que não me impede de adorar essa música.

E é engraçado tudo isso que ela me passa porque eu andei pensando esses dias sobre o quanto as coisas costumam ganhar e perder sentido (pensando quantitativamente) com o passar do tempo. Passar do tempo, girar do mundo, ou o que seja.

E indo contra essa sensação de que os sentimentos são etéreos, a impressão que eu tenho é de que esses dias, ao escutar ela, meus sentimentos fossem mais eternos. Como se, de fato, o mundo estivesse girando mais devagar.

E mesmo que logo eu comece a "enjoar" um pouco dessa música, o que provavelmente vai acontecer, esse sentimento vai saber que possui morada - na minha memória.



Essa música também veio a me lembrar de um poema bem curto que eu escrevi a uns dois meses atrás, que agora tem uma boa desculpa para ser postado aqui.


passava
tão vagarosamente
que eu quase
deixava
o mundo
girando
passar por mim

domingo, 4 de maio de 2008

Diálogo sobre o tempo

            (ou Experimentando o que eu acho que se chama escrita livre)




A: Aqui neste quarto faz tanto tempo agora. Apesar de aqui não haver nenhum relógio marcando os segundos eu sinto como se cada canto estivesse permeado por todo o tempo.
B: Eu não sinto nada do que você está dizendo. Me sinto bem... Sinto um cansaço.
A: Também sinto o mesmo, pelo mesmo motivo que você, mas não consigo desligar minha mente dessa sensação.
B: No máximo, eu consigo sentir um pequeno sentimento de agora. Deve ser o sono chegando em mim. Você tomou muito café hoje.
A: Talvez. Aliás, o dia de hoje me soa como algo distante, como se tudo que eu tivesse feito já tenha sido a muito tempo atrás. Como se a muito tempo, tirando essa reflexão, eu não fizesse nada.
B: Não sei se entendo muito bem o que você quer dizer.
A: É como se, pra mim, o agora fosse muito menor do que todo o resto do tempo.
B: Uhm. Não sei, me parece que eu não fiz nada durante todo esse tempo que você fala, exceto agora.
A: Como assim?
B: É como se pra mim não existisse muito essa noção de tempo. Acho que, por eu não conseguir pensar muito no tempo, talvez ele exista menos para mim do que para você.
A: Entendo. Mas assim me parece que você tem bem mais tempo do que eu, só não sabe disso.
B: Se for, acho que não sei mesmo. Pelo menos assim eu uso esse tempo pra fazer inveja nos outros (sorriso).
A: (sorriso) É...
B: .

A: Acho que agora sou eu que estou com sono.
B: Eu já perdi o meu. Vem cá...