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terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

insone            sonho
de um sono              acordado
a todo instante

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

róseo oriente
rente ao horizonte - o
sol por trás dos montes

sábado, 20 de dezembro de 2008

Oriente - Gilberto Gil

Letra e textos do site do Gil.

Se oriente, rapaz
Pela constelação do Cruzeiro do Sul
Se oriente, rapaz
Pela constatação de que a aranha
Vive do que tece
Vê se não se esquece
Pela simples razão de que tudo merece
Consideração

Considere, rapaz
A possibilidade de ir pro Japão
Num cargueiro do Lloyd lavando o porão
Pela curiosidade de ver
Onde o sol se esconde
Vê se compreende
Pela simples razão de que tudo depende
De determinação

Determine, rapaz
Onde vai ser seu curso de pós-graduação
Se oriente, rapaz
Pela rotação da Terra em torno do Sol
Sorridente, rapaz
Pela continuidade do sonho de Adão



--- x ---



A "voz" - "Eu e Sandra [Sandra Gadelha, a terceira mulher de Gil] estávamos em Ibiza, na Espanha, numa casinha que tínhamos alugado num bosque de eucalipto. Era um fim de tarde de verão; tínhamos ido à praia e tomado orchata de chufa. Eu estava sentado à porta do chalé, fitando a transição do céu azul para o céu noturno; começavam a surgir as primeiras estrelas. Sandra lá dentro, preparando alguma coisa, e eu ali, quieto. De repente eu vi uma estrela cadente e aquilo me deu interiormente a sensação de uma voz. 'Se oriente!' - surgiu essa voz. "Se oriente, rapaz". Aí eu entrei, peguei papel e lápis, e..."

De como os sentimentos e as reflexões foram nutrindo a inspiração poética e a composição se transformando numa condensação de símbolos - "Da saudade do sul - do hemisfério sul - veio a idéia do Cruzeiro como orientação, como se eu tivesse de me lançar ao mar em busca da redescoberta da minha terra (Cabral, as três caravelas, as navegações: tudo isso vinha à cabeça), desencadeando-se a seguir a meditação sobre a minha situação no exílio, com uma auto-justificação da necessidade da viagem e uma metáfora para o sacrifício da aventura forçada (os navios negreiros, o trabalho escravo no porão dos negreiros; tudo vinha à cabeça e os pensamentos iam sendo sintetizados nos versos).

"O fato de eu ter feito o projeto da familia, a faculdade; de ter recusado uma pós-graduação na Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, para assumir o trabalho na Gessy-Lever e ficar em São Paulo perto de Caetano, de Bethânia, de Gal, do projeto pessoal, a música; e de o trabalho na Gessy-Lever ter sido uma espécie de pós-graduação também, assim como a situação do exílio tinha para mim um significado de pós-graduação... Por tudo isso Oriente é a música minha que eu considero mais pessoal e auto-solidária, mais solitária. Não sou eu em relação a uma mulher ou a uma cidade; sou eu em relação a mim mesmo, a um momento de vida. Back in Bahia também é auto-referente; ela e Oriente são complementares. Minhas músicas da época são assim. Expresso 2222 é meu disco mais elaborado no sentido de relatar um período."

Atmosfera oriental - "O 'sorridente' foi lembrança remota e inconsciente dos versos de Rogério Duarte comigo em Objeto Semi-Identificado: 'sorridente' contém 'oriente'. (O uso do termo ali dá também um alívio em relação ao tom de cobrança de antes: 'se oriente', 'considere', 'determine'). O clima do oriente estava no ar: os hare-krishna, os tarôs, os I-Chings. E eu estava num ambiente propício para a referência adâmica do final; Ibiza era o paraíso da contracultura, refúgio de hippies de todo o mundo: europeus, americanos, brasileiros, indianos."

sábado, 6 de dezembro de 2008

postes postos póstumos
que minha lâmpada lamba
o cu do seu breu

domingo, 9 de novembro de 2008

Minha primeira publicação impressa!

Esta semana está sendo lançada a Revista Originais Originais Reprovados #4, organizada pelo pessoal da Editoração da USP. Nessa revista são publicados poemas de vários escritores da USP e um poema meu foi selecionado para esta edição. O lançamento vai acontecer em três lugares de São Paulo:
- Feira do Livro, esta semana, de quarta a sexta, ao lado do stand da Edusp
- Quinta & Breja, dia 13, a partir das 18:00 (ECA - USP Butantã)
- Happy-hour da FAU, dia 14, a partir das 18:30 (FAU - USP Butantã)

Caso alguém possa comparecer seria muito bacana!

Ah, e logo mais vem outra publicação, esta, uma antologia de poetas das faculdades de Letras, organizada pelo professor e escritor Antonio Serafim Pietroforte, do curso de Letras da USP.

domingo, 2 de novembro de 2008

paisagem

soldados de chumbo de verde plástico
contar todas as paixões em uma só mão
com a pinça dos dedos procurar por algo grande demais
eu sinto
que após você
tudo daria
uma grande, enorme, poesia

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

desce uma dose

desce uma dose
em nome de todos os nomes
de todos os santos
em nome
da distante Santos
que esse momento seja inteiro
bêbado, perca a sensação de momento
montanha momentânea
que rolem
as últimas conversas
sobre as mesmas primeiras e todas as coisas

esta noite nos acompanham
algumas luzes das janelas acesas
alguns postes acesos
idéias ascendem
fora de nossas cabeças
uma absurda fascinação cresce
por sobre as coisas mais absurdas

há cartas e mangas na mesa
os amores em jogo
mas só de brincadeira
estão esquentando
as cervejas nos copos
enquanto a noite
surdamente
amanhece por debaixo da escuridão
mas ninguém percebe

desce mais uma dose
em nome da própria dose
brisas distantes estão chegando tarde
é preciso estar acordado
quando era preciso estar sonhando

há um alguém que canta na mesa
e um qualquer que toca um violão
há um poeta que colhe
dados para sua quimera
e o gosto do sorriso de quem namora
na boca dos solteiros

tudo girando e impondo à noite
à todas as rodas das mesas
uma certa melancolia
e uma certa verdade
contidas nesta poesia etílica
incessantemente
até que as janelas escureçam
as luzes do bar se apaguem
nós apaguemos
e restem apenas
as luzes daqueles postes acesos
feito as últimas estrelas desse céu